terça-feira, 9 de abril de 2013

comentário sobre o filme "A Onda"

7.A Experiência Fascista na Ótica de A Onda (Die Welle, 2008)

Paulo Roberto Alves Teles 1 
Dirigido por Dennis Gansel, A Onda (Die Welle – 2008) baseada no livro com o de mesmo nome escrito pelo professor Bruce Davison que, em uma escola secundarista na cidade dePalo Alto, Califórnia, em 1967, simulou uma experiência fascista com os seus alunos e perdeu o controle sobre eles posteriormente. A primeira versão de A Onda foi produzida para a televisão em 1981 e foi dirigida por Alex Grasshoff e esta apresentou uma duração bem menor (45 minutos) que a versão de Gansel (101 minutos).

A obra de Gansel é mais ampla e ousada. Pois, além de ampliar as discussões lançadas primeiramente em 1981, utilizou como ambiente para a história uma Alemanha descrente sobre o ressurgimento dos fascismos. A película é densa e nos força a ter um olhar diferenciado sobre ela. Tentaremos realizar nas próximas linhas uma abordagem sobre a obra.

Após ter sido designado para lecionar uma semana de estudos sobre autocracia o personagem Rainer Wenger (Jürgen Vogel) realiza uma série de experimentações baseadas em máximas que norteiam todo o seu curso. A escolha e caracterização do personagem são realizadas de tal maneira que nos levam a crer que qualquer um pode ser envolvido pelo sentimento exposto pelo filme.

Herr Wenger, como passa a ser chamado, consiste num personagem que nutre simpatia pelo anarquismo e idéias de esquerda. Isso é insinuado pelos seus trajes despojados, pela camiseta do grupo musical punk (Ramones), por sua moradia – um barco adaptado como casa – e pelo rock que norteia boa parte da trilha sonora do filme.

“Poder pela disciplina”: A sedução provocada por essa frase inicial desperta no protagonista um sentimento de autoridade e reconhecimento que outrora não fora obtido. Herr Wenger se deixa envolver e no decorrer da trama perde a visão global dos acontecimentos.

Minimizando atos e comportamentos, Wenger acaba se tornando responsável pela construção de uma quimera que nem ele próprio sabia ao certo existir. Dessa maneira, aquele que se via como pedagogo frustrado e menosprezado pelos outros professores, torna-se um líder do qual ecoam palavras como formadoras de dogmas a serem seguidos pelos seus discípulos.

“Poder pela comunidade”: Outra frase impactante levantada pelo filme, a ideia de comunidade desperta entre os alunos a construção de uma identidade e de uma motivação antes inexistente. Símbolos, uniformes e comportamentos são estabelecidos e aqueles indivíduos que, em larga medida, já apresentavam alguma espécie de desequilíbrio emocional, buscam no grupo encontrar aquilo que lhes faltava. Na maioria dos casos, atenção, afeto e proteção.

Vários personagens se encaixam nesta situação. Desde Marco (Max Riemelt), jovem mal resolvido no seu relacionamento com a mãe e que a presencia por diversas vezes em situações promíscuas, a tal ponto que busca nos pais de Karo (Jennifer Ulrich) a família que ele não encontra em casa, até casos mais extremos como Stolti (Frederick Lau) que se submete a riscos e situações variadas com o intuito de conquistar o seu lugar no grupo. Stolti acaba provocando o desfecho trágico do filme. Todos eles, desequilibrados e perdidos, em busca de um sentido para as suas vidas, sentido esse que imaginavam encontrar na poderosa comunidade.

“Poder pela ação”: Finalmente a última mensagem de Wenger. Esta merece destaque especial, pois é ela que torna possível o crescimento do grupo. A partir de suas ações, o desejo de outros estudantes em integrar aquela inicial comunidade aumenta desenfreadamente. A ação, nesse caso, não é apenas um modo comportamental, é uma cartilha a ser seguida e que, ao ser realizada, traz aos seus participantes a sensação de poder, de equilíbrio e de significância perante a realidade que os cerca.

A Onda apresenta, de forma peculiar, e em graus diferenciados, todas as características marcantes nos fascismos, desde o ambiente propício como crises econômicas, frustrações e busca por identidade, até mesmo a construção de um grupo paramilitar onde o fardamento, de cor Branca, é obrigatório, instigando em certa medida a concepção de limpeza étnica.

Entretanto, outro destaque é a capacidade que algumas propostas políticas, quando inseridas em contextos favoráveis, possuem para mobilizar um determinado grupo de pessoas em prol de um objetivo comum. No caso do filme, jovens que possuíam desequilíbrios e buscavam no movimento um sentido de ser e de pertencimento a algo maior e que, para fazer parte disso, foram capazes de realizar várias transgressões. Até mesmo abdicar de suas vontades individuais, justificando esse comportamento como algo necessário para uma causa maior.

A obra de Gansel evidencia a concepção de que quaisquer ambientes, quando imersos em contextos propícios, por mais democráticos que sejam, são capazes de desenvolver ideias e movimentos autoritários que ainda misturam de forma explosiva os conceitos de intolerância e de nacionalismo.

Notas

1 Paulo Roberto Alves Teles é acadêmico do curso de História-Licenciatura pela Universidade Federal de Sergipe e atualmente integra o Grupo de Estudos do Tempo Presente / GETUFS. Orientador: Dilton Cândido Santos Maynard. e-mail: pauloteles_aju@hotmail.com


http://www.getempo.org/index.php/revistas/24-01/resenha/39-a-experiencia-fascista-na-otica-de-a-onda-die-welle-2008

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